Investigadores Portugueses Trabalham Num Robô para
Salvar Pessoas Soterradas Por FERNANDO
PINTO Sexta-feira, 21 de Setembro de 2001
Auxílio à protecção
civil
Os robôs podem chegar até zonas inacessíveis para um ser
humano
Nos
corredores de uma das pequenas torres gémeas do Instituto Superior
Técnico (IST) de Lisboa, mais propriamente na torre norte, anda um
robô, de tom avermelhado, a treinar para conseguir brevemente
auxiliar a protecção civil em tragédias como a que se abateu sobre
as torres do World Trade Center, em Nova Iorque. Pedro Lima,
professor do IST e coordenador do Laboratório de Controlo
Inteligente, é o responsável do projecto de investigação: "Desde
Novembro último que a equipa que coordeno está a desenvolver um
projecto, apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, e que
consiste na utilização de robôs experimentais para operarem no
terreno e também a partir do ar", disse Pedro Lima ao PÚBLICO.
A equipa é formada pelos grupos de controlo Inteligente, da
inteligência artificial, da robótica móvel e da visão robótica.
Todos trabalham com um único objectivo: tentar salvar as vítimas de
catástrofes naturais ou não. "O nosso robô não foi feito cá, veio
dos Estados Unidos. Vieram da mesma empresa daqueles que a minha
colega Robin Murphy está a usar neste momento em Nova Iorque.
Comprámo-lo para o projecto 'Busca e Salvamento' que estamos a
desenvolver neste momento", conta o coordenador.
Os três robôs experimentais que estão a ser utilizados nas
operações de resgate das vítimas do atentado ao World Trade Center,
em Nova Iorque, são do tamanho de uma caixa de sapatos e conseguem
detectar um corpo escondido nas toneladas de escombros, devido às
câmaras e sensores especiais que possuem. "Os robôs da minha colega
Robin Murphy são sobretudo teleoperados, ou seja, uma pessoa
comanda-os com a ajuda de um 'joystick'. A minha colega conhecia
pessoas ligadas à busca e salvamento e por isso teve a oportunidade
de testar o seu equipamento no terreno. Os seus robôs lagartas
conseguem entrar em buracos e descobrir objectos ou pessoas",
explica Pedro Lima.
Estes bombeiros em miniatura foram desenvolvidos por cientistas
da Universidade do Sul da Florida e conseguem chegar a locais de
difícil acesso para os seres humanos e até mesmo para os cães
habituados a encontrar vítimas entre os destroços. Os robôs foram
levados pela mão da investigadora Robin Murphy para a zona do
atentado, poucas horas depois de dois aviões desviados por
terroristas terem sido lançados contra as torres gémeas. Estes
autómatos já tinham sido utilizados em operações de resgate, após o
ataque à bomba na cidade de Oklahoma, em 1995, onde morreram 168
pessoas.
A equipa do IST, coordenada por Pedro Lima, está também a
programar o robô no sentido de este poder conseguir levar comida,
água e medicamentos a qualquer vítima que tenha ficado soterrada
debaixo dos escombros. Depois envia fotografias com a localização
exacta onde a vítima se encontra. "Desta forma, se algo correr mal,
quem sofre são os robôs e não as pessoas. Como o robô possui uma
câmara de filmar, consegue-se ver se existem pessoas ainda presas ou
soterradas no local explorado", diz Pedro Lima.
As pessoas que ficam debaixo de uma montanha de entulho, mas que
conseguem respirar porque ainda existe ar em certos locais,
geralmente morrem à sede ou devido a ferimentos graves. Daí a
importância de uma espécie de toupeira que conseguisse ajudar os
sobreviventes. Por outro lado, seria um risco a menos que os
bombeiros teriam de correr, já que os escombros, nestas alturas,
parecem ter vida e raramente estão quietos.
Os investigadores do IST pretendem chegar a um acordo com as
autoridades, nomeadamente com a protecção civil, para que possam
desenvolver também um robô aéreo para sobrevoar a zona sinistrada e
mandar informações para as equipas que estão no terreno, ou então
para os robôs terrestres, programados para vasculhar a área
atingida. "Já conversámos várias vezes com a protecção civil,
principalmente com os bombeiros, e parecem estar receptivos a esta
ideia. Gostaríamos de ter uma empresa portuguesa que construísse os
robôs, o que no nosso país não é nada fácil de conseguir. Aos
bombeiros interessa este projecto porque são eles que lidam
diariamente com condições perigosas, como é o caso de edifícios
destruídos", lembra Pedro Lima.
Alguns ex-estudantes de pós-graduação do Instituto Superior
Técnico de Lisboa, que trabalham nesta área da robótica, formaram
uma pequena empresa que está a desenvolver estas máquinas
inteligentes. "Foram eles que instalaram este robô terrestre", diz
Pedro Lima.
Carlos Marques, um dos engenheiros envolvidos no projecto "Busca
e Salvamento", trabalhou num algoritmo que permite ao robô com que
tem estado a trabalhar desviar-se dos obstáculos. "Ele necessita de
ter um objectivo definido. Como possui este aparelho de orientação,
o GPS, não se sente perdido. Ordenamos-lhe que ele vá para uma dada
posição e ele vai sem dificuldade. O que tentamos é escolher os
melhores caminhos", diz o investigador.
À medida que o robô progride no terreno vai tomando as suas
próprias decisões. Para isso, precisa de lidar com uma série de
sensores. O "ATRVJr", o robô que foi adaptado para o projecto de
"Busca e Salvamento", possui 17 sonares que lhe permitem ver como os
morcegos, ou seja, consegue desviar-se dos obstáculos porque emite
constantemente ultra-sons que são reflectidos pelos diversos
objectos e analisados de seguida. "Estas bolas, que se encontram de
cada lado, à frente e atrás, são os tais sonares", aponta Carlos
Marques enquanto vigia o desempenho do robô. "São os seus olhos.
Também consegue fazer marcha atrás, dar uma volta sobre o seu eixo,
enfim, está preparado para avançar no terreno e ajudar a salvar
vidas", explica Carlos Marques, enquanto o robô percorre o corredor
do edifício onde se encontra o Laboratório de Controlo Inteligente
do IST.
A imagem em ambiente exterior é, segundo os investigadores, um
dos graves problemas a resolver: as variações de iluminação podem
induzir o robô em erro, se este não estiver convenientemente
preparado para lidar com isso. "Envolve algoritmos, cálculos
avançados de visão", diz Carlos Marques.
"A génese deste projecto está no futebol robótico que
desenvolvemos há já algum tempo, em que vários robôs cooperam para
atingirem um objectivo. O projecto de 'Busca e Salvamento' é, no
fundo, uma espécie de guarda-chuva para uma série de assuntos
científicos que nos interessa desenvolver", conta Pedro Lima.
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